segunda-feira, 23 de junho de 2008

Mais uma poesia!

Nem bem postei a última intercalação de palavras e já tive vontade de postar outras novas! Estava conversando com uma amiga, a qual, admito, amo muito, e não é porque ela é linda, e me foi passado por ela, uma poesia de sua autoria, que eu gostaria de postar aqui para divulgá-la. Trata-se, antes de tudo, de uma reflexão como as coisas subjetivas e com entendimentos complexos, tornaram-se objetivas e de curto prazo, banalizando também seu significado intrínseco. Infelizmente não lhes darei o nome da autora!

Sobre amor e sexo

Chegou um tempo em que não têm-se mais tempo. Nos anos, auroras boreais, em que éramos virgens de pele e emoção, o amor era o ponteiro das horas. Chegou um tempo em que o relógio não é mais figurado, e tem os ponteiros apontados rigidamente contra o ser. Hoje conto nos dedos os sentimentos e sentidos que não passaram, que foram mastigados feito chiclete, bola de mascar sem o gosto açucarado da infância rebelde. Fomos ensinados a dar apenas com o prazer de receber e a numerar os fracassos emocionais como histórias ruins que se esquecem na estante empoeirada da memória gasta. Sinto falta do tempo sem horas, do tempo sem freios e aceleradores de intensidade. O amor ainda é desejado, perseguido, feito um cavaleiro andante sem face. O amor virou um Quixote, sinônimo da loucura, da luta de tentar fazer brotar um mundo que existe apenas naqueles que negam em aceitar o universo que os envolve e corrompe. Talvez, como disse o poeta, amar tenha resultado inútil. Chegou um tempo em que sobram utilidades, usos e desusos. Anos passaram e hoje o amor soa como sexo, e a pele como ornamento da alma (raiz fraca do ser).

domingo, 15 de junho de 2008

Poesia - Ricardo Gonçalves














Saudações aos velhos leitores, aos novos e possivelmente aos raros visitantes que vêm ao encontro de mais uma catarse social em mais uma singela madrugada que me ponho a escrever.
Estava lendo hoje, por páginas perdidas, culpa da minha triste e momentânea falta de tempo para interesses meramente particulares, uma poesia que encontrei no livro "Nem pátria, nem patrão: vida operária e cultura anarquista no Brasil" de Francisco Foot Hardman. A poesia está diretamente relacionada com o anarquismo no Brasil, não sei exatamente a época mas ao encontrar citados no livro Monteiro Lobato e Oswald de Andrade (para quem a propósito o autor clama "simpatias difusas e meramente intelectuais"), chutaria que está entre 1920 e 1930, talvez um pouco antes que a década de 20. O autor se chama Ricardo Gonçalves e além de poeta, era estudante de direito. Para referenciá-lo melhor preferi reescrever aqui parte de um parágrafo do livro:
"Não estamos falando diretamente, aqui, de literatura anarquista ou "operária". No caso da escrita macarrônica e da sátira política, trata-se de mediação de um punhado de escritores da classe média paulistana que, de certa forma, rompiam com os cânones literários bacharelescos."
Sem mais delongas, a poesia:

Rebelião

(...)Como um vago murmúrio,
Mansa a princípio, ela ecoa,
Depois é um grito bravio
Que pela noite reboa,
Que para a noite se eleva
Num pavoroso transporte,
Como um soluço de treva,
Como um frêmito de morte.

(...)Ah! Nesse grito funesto
Nesse rugido, palpita
Um rancoroso protesto.
É o povo, a plebe maldita
Que, sombria, ameaçadora,
Nas vascas do sofrimento,
Mistura aos uivos do vento
A grande voz vingadora

(...)E quando comece a luta,
Quando explodir a tormenta,
A sociedade corrupta,
Execrável e violenta,
Iníqua, vil, criminosa,
Há de cair aos pedaços
Há de voar em estilhaços
Numa ruína espantosa"