quarta-feira, 6 de agosto de 2008

A verdade ufanista

Prometo não transformar isso num blog de poesias, mas enquanto nada vem, desgostem-se com outra poesia minha...

A verdade ufanista

León e Juan têm a mesma idade
Moram em países diferentes, em suas cidades
Compartilham mesmos gostos
E têm as mesmas expressões em seus rostos
Todos os dias acordam bem cedo
E de seus futuros, têm medo
León é pedreiro
Juan é sapateiro
Por vezes sonharam em ser algo mais
Mas não puderam, optaram por ajudar seus pais
Ambas as casas faltavam energia
água, móveis e até comida
Trabalhavam duro para sobreviver
Bem ali, aos olhos de quem quer ver
Embebedavam-se aos fins de semana
Para novamente agüentar quem manda
Martirizados por seus respectivos patrões
Ainda tentavam se enquadrar em seus padrões
Praticamente viviam sob o mesmo karma
Até tinham, em suas cabeças, as mesmas armas
Todos os becos escuros que tinham que freqüentar
E a miséria que tinham que agüentar
Pensavam num mundo melhor e mais justo
Nem que para isso pagassem à alto custo
Assistindo ao noticiário, León ouviu seu presidente
Escutou que seu país, estava mal naquele presente
Também ouviu dizer que a culpa era dos estrangeiros
Aqueles que ficavam, ao se dizerem passageiros
Ao andar pelas ruas, Juan escutou um orador
Escutou os mesmos problemas com furor
Sua casa estava em seu pior momento
Assim, acatou as idéias em seu tormento
As bandeiras nacionais tornaram-se espadas
E as palavras de ordem, emaranhadas
A tensão correu ambas as terras
E a unidade se perdeu em ermas
Os excluídos dividiram seus gritos
E conglomeraram, em fileiras, seus filhos
Propagaram o ódio por outros, desconhecidos
Atacaram até os que não estavam envolvidos
As elites de seus países, conversavam
As massas, se degladiavam
Expulsavam de suas terras aqueles que nasciam ao lado
E que com nacionalidade diferente, carregavam o fado
Sem se importarem com a vivência de cada
Reduziram suas compatibilidades a nada
Esqueceram-se que independem da nação
Para serem iguais e terem a mesma razão
Pois a irrealidade das divisas
Não cicatrizam as iguais feridas
Da classe, que se alastra por todos os cantos
Que por dentre rostos imundos, escondem santos
De mãos calejadas e suor a gotejar
Que unidos parecem trovejar
Mas a distância física entre estes
Transformaram-os em aqueles...